Como testar as hipóteses com a metodologia Startup Enxuta?

 por Lucas Retondo – especialista em Startups


Nenhum plano resiste ao campo de batalha. – George Patton

Quem deve ler este artigo?

  • Empresários que querem transformar a sua empresa em um Startup
  • Empreendedores que querem criar uma Startup do zero
  • Executivos que querem aumentar a inovação dentro das suas organizações
  • Pessoas curiosas que querem saber o que é a Startup Enxuta

Por que você deve ler este artigo?

Imagine que você fez um plano de negócios perfeito, usou pesquisas de mercados atualizadas, identificou e analisou todas as fraquezas dos seus concorrentes, desenvolveu um produto de qualidade e lançou no mercado com uma grande campanha de marketing.

Você fez tudo certo, executou o plano com precisão, dentro do orçamento e no tempo previsto.

Porém, o resultado ficou aquém do esperado, o seu brilhante produto não conseguiu atingir os números que você colocou na sua projeção financeira.

Neste momento você começa a se perguntar, onde foi que eu errei? Fiz um plano perfeito, executei com exatidão e não obtive sucesso, onde foi que eu errei?

De fato, você não errou na execução, você errou no plano. Você criou um plano que te levou para o lugar errado.

É como se você tivesse digitado o endereço errado no seu Google Maps. Você conduziu o seu veículo com perfeição, mas acabou chegando no lugar errado.

E como evitar fazer um plano errado?

Planejar é importante, mas exagerar nas análises gera paralisia e revisões intermináveis. Por outro lado, não fazer nenhum plano também gera riscos e aumenta a chance de fracasso.

Por isso, a melhor estratégia para se criar uma Startup é ter uma visão grandioso de longo prazo, porém usar planejamentos de curto prazo para encontrar um modelo de negócios sustentável através de experimentos com clientes reais.

Para ajudá-lo a testar as suas hipóteses, neste artigo vou falar sobre o que é o mínimo produto viável e quais os seus principais desafios. Boa leitura!


O que é um mínimo produto viável?

Como Steve Bank sempre diz em seus treinamentos para empreendedores, as informações que precisamos coletar sobre os clientes, mercados e fornecedores só existem fora do prédio.

E a melhor forma de colher estas informações é através de um mínimo produto viável, o famoso MPV.

O MPV não é uma parte da solução e muito menos um protótipo. Ele é uma versão simplificada do produto criada da forma rápida e com o mínimo esforço. Um MPV deve ter uma solução completa.

A figura abaixo ilustra bem o que é um MPV. Como você pode observar, na primeira sequência de figuras os produtos criados não solucionam o problema efetivamente que é transportar pessoas. Uma roda isolada não consegue fazer isso (1), assim como um chassi com as rodas (2).

Já na segunda sequência de figura temos soluções completas que resolvem o problema de transporte. O patinete (1) é uma primeira versão do produto, ele é simples e fácil e ser construído.

Depois, com o feedback dos clientes construímos a bicicleta (2) como uma versão melhorada do produto. E assim por diante, até chegarmos no produto final representado pelo carro (4).

Lembre-se, o objetivo do MPV é iniciar o processo de aprendizagem e não o terminar. Ele é utilizado para testar as hipóteses fundamentais do modelo de negócio de forma rápida e barata.

Em outras palavras, o mínimo produto viável é um experimento realizado através de um produto simples com o objetivo de validar as suposições mais importantes da sua Startup. Ele não é um produto final.


Por que o MPV não precisa ser perfeito?

Como o objetivo é o processo de aprendizado, o MPV não deve ser feito para atender a grande massa. Ele tem como propósito atrair os adotantes iniciais da sua solução.

Por isso, o seu MPV não precisa ser completo. Pelo contrário, adotantes iniciais aceitam produtos inacabados. Na verdade, eles preferem produtos assim.

Adotante iniciais querem ser os primeiros a usar um novo produto ou uma nova tecnologia. Eles querem ser os pioneiros em usar e falar sobre o seu produto.

No mundo corporativo, os adotantes iniciais buscam ser os primeiros para criar uma vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes.

Portanto, para iniciar o aprendizado, não é necessário ter um produto robusto com todas as funcionalidades. Adotantes iniciais preenchem as lacunas de um produto com a sua imaginação.

Eles muitas vezes suspeitam de produtos bem-acabados e completos. Quando vêm um produto pronto, os adotantes iniciais pensam: se já está pronto para todos usarem eu não serei o primeiro.

Portanto, resista a tentação de criar produtos complexos, foque na funcionalidade mais importantes da sua solução e comece rapidamente o processo de aprendizado.

Lembre-se, o seu produto precisa passar primeiro pelos adotantes iniciais antes de atingir o mercado de forma massiva.


Por que é tão difícil fazer um MPV?

Empreendedores querem mudar o mundo, e para impactar o mundo, normalmente eles pensam que é necessário ter um produto de qualidade e pronto para ser lançado globalmente.

Por isso, é muito comum empreendedores se sentirem frustrados em ter um produto sendo usado apenas por um pequeno nicho de adotantes iniciais.

E mais, eles resistem em lançar um produto cheio de bugs e incompleto. Este processo de aprendizado não parece ser compatível com a sua ambição de impactar o mundo.

Por este motivo, a maioria dos empreendedores acabam superestimam os recursos necessários de um MPV e desperdiçam tempo e dinheiro desenvolvendo produtos completos já na primeira versão.

Por exemplo, para testar a taxa de conversão de um produto, eles primeiro criam um produto e depois fazem o teste de conversão.

Sim, este caminho parece ser o mais lógico, porém, se o objetivo é testar a taxa de conversão é possível fazer o teste sem ter o produto pronto.

Portanto, empreenderes costumam validar uma hipótese desenvolvendo um produto completo para depois analisar o comportamento do consumidor.


Quais as desculpas mais comuns dos empreendedores?

Sei que desenvolver um MVP não é fácil, eu mesmo já cometi o erro de criar produtos completos para obter os primeiros aprendizados.

Para evitar que você cometa os mesmos erros, quero falar agora sobre as desculpas mais comuns dos empreendedores na hora de criar um MVP.

Quem sabe ao se identificar com alguma deles, você aumente a sua consciência e evite cometer este erro.

Vão roubar a minha ideia

A desculpa mais comum dos empreendedores é o medo de empresas grandes ou outros empreendedores roubarem a sua ideai.

Quem dera fosse tão fácil assim. Quem dera que uma Startup fosse facilmente vista por todos do mercado, principalmente pelas grandes empresas.

E mais, não faltam boas ideias para os gerentes de grandes, a mesa deles está repleta de ideias inovadoras.

O problema deles não é ter ideias, e sim, priorizar e executar as melhores ideias. E este é o grande diferencial de uma Startup, a sua velocidade de aprendizado.

Não acredita, faça um teste, pegue a sua ideia mais brilhante e tente fazer um gerente de uma grande empresa roubá-la.

Ligue para ele, mande um e-mail, tente marcar uma reunião. Você verá que ele não está com dificuldade em ter ideias, e sim, implementá-las.

Sim, se você tiver sucesso é inevitável que outras empresas copiem a sua ideia. Por isso, a única forma de vencer a corrida é aprender mais rápido que todo mundo interagindo com clientes reais.

Vai prejudicar a minha marca

Outra desculpa frequente é que o MVP vai prejudicar a marca da sua empresa. Muitas vezes eu ouço: “depois de usar um produto simples as pessoas vão falar mal da minha empresa e isso irá prejudicar a minha marca”.

Sim, um consumidor insatisfeito tende a falar mais sobre uma experiência ruim do que um cliente satisfeito, neste ponto eles tem razão.

Porém, a estratégia de um MPV não é atrair todo tipo de cliente, o foco é atrair os adotantes iniciais. Pessoas que procuram por novidades e que não estão interessadas em produtos 100% prontos.

Portanto, as possibilidades da sua marca ser prejudicada a longo prazo são mínimas com um mínimo produto viável.

Normalmente as empresas saem queimas justamente quando fazem o caminho inverso, criam um produto sem o feedback de clientes reais e depois fazem uma grande campanha de lançamento atraindo a grande massa que fica insatisfeita.

Tenha em mente que as Startups têm a vantagem de serem desconhecidas e contar com uma base pequena de clientes.

Por isso, use este anonimato a seu favor, só faça marketing de lançamento quando o produto estiver aprovado por clientes reais.

Agora, se você está lançando um novo produto dentro de uma grande empresa, o risco de prejudicar a sua marca realmente é grande. Neste caso a solução mais comum é lançar o MVP sobre outra marca e depois incorporar na empresa.

Os clientes vão rejeitar por estar incompleto

A terceira desculpa que mais ouço é: os clientes vão rejeitar o produto se ele não tiver todas as funcionalidades.

Eu mesmo já usei esta desculpa quando criei a minha primeira Startup. A medo do falso negativo faz com que empreendedores desperdicem muito tempo e dinheiro para obter os primeiros aprendizados.

Sei que romper este padrão não é fácil, quando estamos sonhando em mudar o mundo é normal criarmos uma distorção da realidade e acharmos que temos um plano perfeito.

Por isso, acabar com esta distorção e buscar por fatos as vezes muito doloroso para os empreendedores.

Mas pense comigo, se você lança um MVP somente com o essencial e depois recebe feedbacks dos clientes dizendo que faltam funcionalidades que você já havia pensando, isso é bom ou ruim?

No começo eu pensava que isso era ruim.

No entanto, hoje eu aprendi que é uma ótima notícia, significa que a funcionalidade que imaginamos é realmente importante, logo, devemos incorporá-la ao produto.

Por outro lado, pense em todas as funcionalidades que você inicialmente imaginou para o produto que não foram citadas pelos clientes?

Isso mesmo, se você tivesse desenvolvido todas as funcionalidades imaginadas você teria desperdiçado tempo e dinheiro criando coisas que não são percebidas pelos clientes.

Logo, mesmo feedbacks sobre coisas que você “já sabia” são preciosos e válidos também.


O que deve ter um MPV?

Agora que já falei sobre os principais entraves dos empreendedores na criação de um MVP. Chegou a hora de falar sobre o que deve ter um MVP.

Resumindo em uma única frase, um MVP deve ter somente as funcionalidades essenciais para começar o processo de aprendizado segundo a metodologia Startup Enxuta.

Todo trabalho que não seja essencial para dar início ao processo de aprendizado é considerado um desperdício, por mais importante que possa parecer a princípio.

E lembre-se, o objetivo do MVP é iniciar o processo de aprendizado. Por isso, não importa o resultado, você deve iniciá-lo o mais rápido possível e não perder a esperança caso a sua hipótese não seja válida.

Empreendedores bem-sucedidos não desistem na primeira tentativa. Eles têm perseverança e flexibilidade e o MPV é apenas o primeiro passo do processo.


O que você aprendeu neste artigo?

Neste artigo você aprendeu a como testar as hipóteses de um modelo de negócio através de um MPV conforme recomendado na metodologia Startup Enxuta.

Ao longo do texto eu expliquei o que é um mínimo produto viável e quais são as desculpas mais comuns dos empreendedores que não adotam esta metodologia.

Sei que o conceito de MVP é um pouco abstrato e confuso quando visto pela primeira vez.

Por isso, no próximo artigo vou dar exemplos práticos, você vai conhecer Quais são os tipos de MPVs mais comuns. Até lá.

Dica:

Para aprender tudo sobre como a metodologia da Startup Enxuta consulte a página Startup Enxuta. Nela eu reuni e organizei todos os conteúdos blog relacionados ao tema.


Quem é Lucas Retondo?

Sou empresário, mentor e consultor especialista em Startups. Atualmente sou sócio fundador da Startup Creator apaixonado por tecnologia e modelos de negócio inovadores.

Em 2017 larguei um emprego estável como gerente executivo em um multinacional para criar a minha primeira Startup, o PraConstruir. Desde então venho atuando na área de tecnologia e apoiando empresários de TI a criarem organizações e soluções exponenciais.

No passado atuei como consultor e executivo em diversos setores e empresas, como: Ford, Mahle, Renault, MWM, Chevrolet, Magneti Marelli, Pirelli, TIM, Tokio Marine Seguradora, Bradesco Seguros, Cosan, Mobil, Rumo Logística e Raízen.

Também possuo 5 certificações internacionais em coaching, além dos títulos de MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE). Para saber mais sobre o meu histórico profissional consulte o meu LinkedIn e me acompanhe no Facebook, Instagram ou YouTube.

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